Gosto de pensar que a vida é como um cálculo de física, no
qual você nasce com uma fórmula pronta, mas para alcançar o resultado final
deve descobrir as demais equações, sem ajuda do criador. Sempre fui péssima de
matemática, física mais ainda (mecânica quântica é pra pedir socorro). Repeti
um semestre, revi todas as fórmulas exatas para alcançar o resultado ideal ou até mesmo através deles criar meu próprio caminho, minha própria expressão. Sem
jeito. Não consegui amar a ciência que busca compreender todos os mistérios de
forma mecânica para alcançar a exatidão. Confesso que tentei. E optei por
seguir na contramão e não transformar minha vida numa eterna equação, cheia de
lógicas e variações lineares.
No equilíbrio da balança da vida, sempre tive habilidades
para criar mais problemas que soluções. E como todo problema tem consequências,
o meu não poderia ser diferente. Minha vênula insistiu em esticar a corda para
o lado escuro das divisões elementares dos pólos negativos e positivos /
escuros e claros do corpo e da alma. Com esse histórico eu deveria ter sido a
melhor amiga dos modelos científicos. Mas não. Sou ótima na elaboração de
problemas e só. Na resolução deixo a desejar, uma vez que permito que os
números gravitem sem coerência.
Lembro-me que mal conseguia contar todos os números quando
criei o primeiro problema. Conhecia poucas palavras, mas ideias tinha muita. Tive
um casamento (im)perfeito dentro de mim: a criatividade e a impulsividade, sem
limite nem noção de perigo. Ordenei o divórcio, mas o processo parece não ter fim. No
início da união, descobrir o novo, as formas, as cores, as texturas, sem
proferir um som sequer, era fantástico e prazeroso executar os planos
impulsivos. Era tão inocente... Até que aos quatro anos de
idade, resolvi ser cabeleireira. Comecei cortando os cabelos das bonecas,
depois de cuidar de todas quis ser profissional e mudei o visual da amiga.
Sem fórmula alguma criei um lugar simples, aconchegante e
mágico como das histórias eternizadas nos livros. Era debaixo da mesa que tudo
ganhava forma. Já do lado de fora a bolha ilusória estourava. Os resultados
eram muitos, mas sempre tinham a mesma nota negativa. Prejudiquei a amiga. Seis
anos depois, ela partiu. Não nos encontramos mais, não tive a oportunidade de pedir desculpas, nem despedir-me. Perdi a boneca, abandonei a tesoura e esqueci o
nome dela. Só restou a lembrança da felicidade que emanava debaixo da mesa.
Desse dia em diante descobri meu talento: problemas. E tenho aperfeiçoado-os, mesmo
não treinando cálculos.
As pretensões são boas, os impulsos não. Os planos
continuam e a esperança de transformar a agitação em mansidão produtiva está pujante.
Por ora, as fórmulas me acompanham, já descobri várias, mas não o suficiente para
fechar a equação com êxito.
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