quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Nota vermelha

Somos mais intensos quando projetamos sonhos. Atingimos o ápice do prazer com vigor ao realizá-los. Mas até que todas as etapas se completem, as reprovações nos assustam.

Gosto de pensar que a vida é como um cálculo de física, no qual você nasce com uma fórmula pronta, mas para alcançar o resultado final deve descobrir as demais equações, sem ajuda do criador. Sempre fui péssima de matemática, física mais ainda (mecânica quântica é pra pedir socorro). Repeti um semestre, revi todas as fórmulas exatas para alcançar o resultado ideal ou até mesmo através deles criar meu próprio caminho, minha própria expressão. Sem jeito. Não consegui amar a ciência que busca compreender todos os mistérios de forma mecânica para alcançar a exatidão. Confesso que tentei. E optei por seguir na contramão e não transformar minha vida numa eterna equação, cheia de lógicas e variações lineares.

No equilíbrio da balança da vida, sempre tive habilidades para criar mais problemas que soluções. E como todo problema tem consequências, o meu não poderia ser diferente. Minha vênula insistiu em esticar a corda para o lado escuro das divisões elementares dos pólos negativos e positivos / escuros e claros do corpo e da alma. Com esse histórico eu deveria ter sido a melhor amiga dos modelos científicos. Mas não. Sou ótima na elaboração de problemas e só. Na resolução deixo a desejar, uma vez que permito que os números gravitem sem coerência.

Lembro-me que mal conseguia contar todos os números quando criei o primeiro problema. Conhecia poucas palavras, mas ideias tinha muita. Tive um casamento (im)perfeito dentro de mim: a criatividade e a impulsividade, sem limite nem noção de perigo. Ordenei o divórcio, mas o processo parece não ter fim. No início da união, descobrir o novo, as formas, as cores, as texturas, sem proferir um som sequer, era fantástico e prazeroso executar os planos impulsivos. Era tão inocente... Até que aos quatro anos de idade, resolvi ser cabeleireira. Comecei cortando os cabelos das bonecas, depois de cuidar de todas quis ser profissional e mudei o visual da amiga.

Sem fórmula alguma criei um lugar simples, aconchegante e mágico como das histórias eternizadas nos livros. Era debaixo da mesa que tudo ganhava forma. Já do lado de fora a bolha ilusória estourava. Os resultados eram muitos, mas sempre tinham a mesma nota negativa. Prejudiquei a amiga. Seis anos depois, ela partiu. Não nos encontramos mais, não tive a oportunidade de pedir desculpas, nem despedir-me. Perdi a boneca, abandonei a tesoura e esqueci o nome dela. Só restou a lembrança da felicidade que emanava debaixo da mesa. Desse dia em diante descobri meu talento: problemas. E tenho aperfeiçoado-os, mesmo não treinando cálculos.

As pretensões são boas, os impulsos não. Os planos continuam e a esperança de transformar a agitação em mansidão produtiva está pujante. Por ora, as fórmulas me acompanham, já descobri várias, mas não o suficiente para fechar a equação com êxito.

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