quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O drama de um amor que não foi



    Cada vez que sofro de amor, sofro por inteiro sem pedaços, entrego-me a loucura até dela não mais conseguir voltar. Acontece. Volto o olhar para mim e vejo-me preso chorando, sem ninguém, num cárcere público. Acontece que não consegui fingir que a amava só por um olhar, talvez tivesse tido chance, mas não quis.
    Hoje aos tantos anos de cabelos brancos me ponho a escrever na penumbra de minhas lembranças e no romantismo que não dei para alguém que foi lúbrico de mim. Por ela de nome algum, me pus a sofrer até a morte.
    Lembro-me como se fosse hoje, quando nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, as estrelas do céu caíram sobre as nossas cabeças e o vento regeu a mais suave sinfonia do céu… Sim! Ficamos loucos de amor um pelo outro sem se quer trocar nomes. Um instante se fez grande. Foi só um instante o suficiente para minhas raízes entrelaçarem as dela; entrelaçaram sem ordem e sem dó e o meu  num só findou. Aconteceu, eu nunca quis acreditar. O mundo parou só para nós e sem deixar recado, partiu. Num piscar de olhos eu a perdi, a multidão nos inundou, corri, pisei, acotovelei, mas nunca mais nos encontramos. Nunca mais a encontrei. Passei a vê-la, sim, todos os dias em minha loucura risonha.
    Passaram-se dias, passaram-se anos. Meia década após o acontecido nos esbarramos e estranhamente seguimos deixando escapar um olhar para trás sem disfarçar. Noutro dia, mesma hora, mesmo local, nos avistamos, paramos um em frente ao outro, não ouvimos, não falamos,  somente nos despimos e fizemos amor com o olhar. Aconteceu. Ninho solto, cama vazia. Sem nome, sem endereço eu a perdi outra vez. Mas, desta vez meu coração saltou, meus olhos começaram a encharcar, senti uma última vez.
Desde desse dia meu coração não era mais meu, o pobre sofreu sem saber o porque do destino o jogar ali.
    As lembranças doces e pequenas me faziam voltar até aquele lugar, que se fez seco. Todos os dias, feito rotina, lá eu estava a procura de um olhar perdido. As estações mudavam, os pretos embranqueciam, a pele encolhia, o coração batia calado Esqueci de mim. Só existia ela. Lembrava do meu amor com todas as forças que me restavam para que o tempo, a velhice, o esquecimento não me levasse o que dela sobrou. Me guardei para ela, escrevi para ela, alegrei os ânimos na ânsia de encontrar minha bela mesmo que embaixo da terra. Pelo resto de minha vida só lembrei dela.
    Por onde andaria a bela que me roubou a identidade? Por onde estaria àquela que me tirou a vida? Em quais braços deitaria todas as noites que seria minha? Por que não voltou para olhar pro amor de toda sua vida?
    Esquecer foi amargo demais para engolir. Lembrar foi doce, um doce que acabou rápido e me fez sofrer depressa.
    Ainda espero encontrá-la por onde for, preciso amá-la ainda em qualquer imensidade do céu com fervor.

Sempre,
Joel.

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