Refletindo, lembro ela dizer. Uma menina que se mostrava quebradiça, quando pequena, falava sobre os medos que sentia. Medos que não devia, medos que ainda não tinha. Era engraçado e muitas vezes assustador, o jeito dela contar. Algumas noites, quando acompanhada estava, ela encostava a cabeça na da outra pessoa (piolho com piolho, como diziam) e lá por tantas horas da noite ela dizia:
- Estou com medo.
A menina sem laço, nem fita, contava uma história, contava outra e no meio delas soluçando soltava:
- Tenho muito medo de ficar sozinha, sem ninguém; medo de ficar só até mesmo com alguém; medo do escuro; medo do homem da rua.
Ela sentia, chorava, dizia e dormia.
Ela sentia, chorava, dizia e dormia.
Hoje os pés rachados que carregam medos escondidos, agora, parados no ar, me fazem contar e lembrar marcas de um tempo medroso, risonho e tímido. Cicatrizes que não se apagaram, mesmo com o passar dos tempos. Crescemos e elas continuam lá, como um retrato na parede que ao envelhecer encolhe, mas não se acaba, não some com o tempo, não desfaz o momento, só congela vidas que hoje se fazem passadas.
Refletindo ouço minhas lembranças gritarem, observo o passado e revivo medos que há tanto tempo escutei, mas nunca tive coragem de dizer que sentia, também. Por medo me fiz de forte, mas enganada, guardei laços e fitas frágeis.
E aquela menina sem laço, nem fita, foi mais forte que todos os covardes, domou seus medos, lutou com todas as forças, gastou seu último fio de sangue vencendo
o mostro da vida, sem fobia.
As lembranças ainda gritam, mas ela não.
2 comentários:
Lindo Texto. é encantadora a sua arte. e vislumbrante suas palavras.. Parabens!
obrigada luluzinha, bom vê-la sempre por aqui!
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