terça-feira, 22 de outubro de 2013

Sobre amor, aflições e outros aprendizados

Eram as primeiras semanas da primavera daquele ano ímpar cheio de surpresas singulares que estavam por vir. Atravessamos o segundo semestre de quatro anos bem vividos, com todas as suas falhas e felicidades. Enquanto as árvores brotavam, dentro de nós algo murchava. E de primaveril dentro de mim só tinha as esperanças. Esperanças daquelas que se escondem feito sementes na terra, que resistem a tudo e depois de algum tempo, mesmo sem cuidados, brotam fortes trazendo energia e luz à escuridão. Um apagão que cenicamente nós mesmos armamos. 

Os últimos dias dessa história em pouco tempo se transformou numa peça em atos, daquelas representadas em óperas que duram apenas duas ou três horas. Concertos longos foram apresentados em nossas vidas, àqueles que no incomodo do ser transformam as horas em dias cansativos e parece não mais ter fim. Hoje daquele concerto, só restou o conserto a ser feito dentro de nós mesmos. 

Em pouco tempo tudo se desmontou. Algumas peças foram perdidas nesse processo de busca inconstante e nossa paisagem passou a não se encaixar mais. Faltaram peças no nosso jogo. Juntos, formamos uma imagem bonita, porém incompleta. Passamos a procurar ansiosamente por nossas peças perdidas. Buscamos intensamente nossos pedaços estraçalhados.
Nossa vontade de montar o quadro perfeito se tornou tão grande que esquecemos que poderíamos ter criado novas peças, por mais trabalhoso que fosse. As oportunidades que poderiam contribuir para o bem foram descartadas por orgulho. Não conseguimos enxergar assim, para a gente criar seria desgastante demais, ia nos tomar tempo e não estávamos tão dispostos assim. Além de estarmos muito apegados as velhas peças, o novo ainda nos assustava. E a nossa busca foi bloqueada. 

Atravessamos todas as estações em uma só. Chegamos a um ponto que não sabíamos mais o que procurar ou até mesmo o que fazer. Estávamos esgotados por nós mesmos. Tornamos-nos nossos piores inimigos. Éramos nossos espelhos e passamos a refletir no outro nossas qualidades más. 

Esquecemos-nos de observar todas as outras peças perfeitas no nosso jogo e passamos a nos concentrar apenas no que carecia. Somos seres incompletos, imperfeitos em tudo. Mas queremos sempre ser melhores e esperamos a perfeição daqueles que mais amamos. É um erro, nada é perfeito. Nosso amor em incomensurável é imperfeito. É a regra da vida. E com a regra mal aplicada tudo se desmonta e então complica. É aí que a flor murcha, que o império desaba e que a primavera não brota.

Esquecemos-nos de cuidar de nós para podermos ter o melhor para dar continuamente. Esquecemos-nos de encher nosso coração de amor e não de dor. E o nosso coração só pode dar aquilo que tem. Se seu coração tiver repleto de amor você vai espalhar amor por onde for. 

A nossa boca fala o que o coração sente. Nossos gestos mecanicamente correspondem ao (in)consciente. Se você diz que está feliz, mas se seu coração assim não está, sua alma e seu corpo entram em conflito e os pensamentos te levam a loucura. E nesse momento adentramos becos escuros, em labirintos confusos e nos perdemos no mesmo meio do caminho. Ficamos tão esgotados de correr sem sair do lugar e fadados de apostar na mesma jogada que não conseguimos avistar mais uma saída. Na exaustão, não planejamos a melhor estratégia, uma simples e prática, para alcançar a vitória. Muitas vezes o triunfo está a nossa frente e não conseguimos ver. A busca pelo final feliz, pela ideia do sucesso ideado, é tão incessante que nos impedimos de contemplar nosso destino, e assim nos rendemos em olhar para trás. Então, retrocedemos. Sentimos-nos tão sufocados que perdemos as expectativas. Esquecemos-nos de tudo que um dia sonhamos ao nos depararmos com nosso jardim morto, falido, findado por falta e excesso de sentimento governado junto, tudo ao mesmo tempo por nós. 

Tudo em desmedida nos faz desesperar. E não totalmente vencidos pelo fracasso, começamos a nos encher com novas possibilidades. Empilhamos novos sonhos, outros planejados, aqueles planos imediatos para ontem. Investimos em novas conquistas, aceitas por impulso. Escolhemos atalhos mais curtos para que possamos chegar mais rápido ao destino final, invadindo os sinais fechados; os vermelhos que tanto nos incomodam, mas previnem o pior. 

Começamos a nos encher, a preencher o vazio que nós mesmos geramos. Começamos a fazer com que as plantas ganhem vidas repentinamente, para que a recordação do antes não tenha vez.

Por fim, acabamos cometendo mais erros e mais erros. E nos cansamos ainda mais.
Plantamos novas sementes sem mexer na terra. Sem fazer a troca do solo. Sem cuidar da base, somente acumulando coisas novas por cima. Sem pensar na vida útil ou nos problemas que podem surgir. Não pensamos em nada prudente, simplesmente jogamos tudo em cima sem preparar o terreno, sem reparar os estragos. Mais erros. Mais afetos. Mais angústias. 

Às vezes é melhor gastar mais tempo, dinheiro, disposição, mais dedicação a algo que vai demorar e nos custar um esforço maior, porque afinal podemos ter alguma ‘certeza’ de um resultado mais firme e positivo, àqueles que têm o poder de nos encher de orgulho. Algo que vai realmente consertar o velho com o novo.

Amar é cuidar da base. Renovar é extrair todo o solo que realmente não presta e no mesmo chão colocar uma nova terra, para construir algo firme e completo para que todos que passar, contemplar e querer voltar. 

Com o tempo tudo se renova... Após quatro anos bem vividos recentemente posso enxergar isto. Ainda que cheia de mágoas. Ainda que com o coração pesado.

Mas é importante recordar que uma construção antiga, bem feita, sempre terá o seu valor. Sempre poderá servir de modelo para um futuro inovador. Vai poder ser tão bonito e nos deixar orgulhosos por dias. Vai poder fazer com que a gente agradeça todo o desespero que a vida nos cravou, todas as dificuldades que o destino nos lançou, somente por conseguir reconhecer que algo seguro foi construído. E que cada dia vencido vagarosamente, cada dia superado foi válido. Cada esforço foi bom. Cada dor foi necessária. E que o sofrimento nesse processo é necessário para que a felicidade mais simples seja valorizada e apreciada. Vamos poder nos orgulhar, pois mesmo com o coração apertado, sem saber decifrar o que estava por vir, conseguimos investir tanto esforço sem ter certezas do amanhã... Um amanhã que nasceu para dois. Para dois corações separados, mas que ainda distantes batem juntos em uníssono.

Construir sem saber se o sol vai nascer ou não, se terá o necessário ou não, é virtude do ser... Apostar nisso é viver intensamente. É viver o hoje enfrentando batalhas ou não, só para ter o prazer de desfrutar dos ‘frutos’ almejados. E mais ainda, poder ofertar aos que você ama os somente os melhores.A vida é assim, não vivemos sozinhos nesse mundão de meu Deus. Precisamos do outro, precisamos sentir e fazer sentir. Podemos sofrer só, mas até para isso precisamos da ação do outro. Vivemos para construir o melhor e assim dividir com amor.


E assim é a vida, se a gente esgota as energias pensando em fazer o bem, com a cabeça tranquila, depois de uma tempestade superada ganhamos mais forças. Com o tempo será valoroso poder ver alguém desfrutando dos louros obtidos com seu esforço. Acho que assim é o amor verdadeiro, aquele que acelera o coração, que ama sem ver as dificuldades, não seleciona os momentos, nem tem medo de se arriscar loucamente. O coração enquanto sente o pulsar forte não perde o ritmo. 

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