quarta-feira, 9 de junho de 2010

Vazio

Carta alheia

Todos os dias ela abre um sorriso acanhado, como quem quisesse mostrar felicidade plena.
Com passadas firmes ela segue sem olhar para trás.
Entalei, parei no tempo.
Ela precisava de um abraço. Eu não dei.
Ouvi em volta risos, zombarias. Um bando de gente hipócrita, ridículas.
Corri até ela, mas não a encontrei. Olhei para o chão, encontrei um papel amassado com palavras tremulas.

Eu não quero escrever, mas preciso falar, eu preciso conversar, soltar o que trava a minha garganta, a minha vida.
Minha cabeça fervilha. Meu sangue pulsa loucamente. Tenho ódio, tenho raiva.
Não sei viver. Viver é muito difícil, viver é desagradável. Os sorrisos são falsos. As falácias são horríveis.
Sentir é doloroso.
Chorar é bom.
Eu não queria estar aqui... Outro lugar. Um lugar em desconhecido, um lugar onde todos me enxerguem, um lugar em que todos fazem caretas e não se importam com dinheiro.
Escuto passadas, a porta se abrir. Falo em silêncio. Poderia enlouquecer. Mas, tenho defeitos, me finjo de gente, me afogo na solidão.
Gosto do céu. Gosto do feio. Amo o vento.
Talvez fosse um baú. Se qualquer um me abrisse diria que estaria vazio. Mas, não, estou cheia, cheia de ar... É este ar que muitas vezes sufoca.
Eu chovo.
Me perco.
Uma água turva;
um erro... erros que me fazem assim.
Sou uma invenção. Sou um fingimento. Sou covarde... Sou poeta!

Parado no meio do caminho o homem chorou sobre a carta, sentindo o céu chorar sobre ele.

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